Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira
Pega a minha mão; quero-te aqui
na palma da minha mão; quero-te neste instante; sacrifica o dia; deixa rolar a
noite; entra nas minhas fantasias; eu arranquei as palhas do berço onde
adormecia tempos atrás; vem; segura a minha mão; eu te darei a deixei em tuas
mãos hábeis i escorregar pelo meu corpo moldado a minha silhueta; embriagando-se
profano e ávido em meus desejos; vem; segura as minhas mãos e entra nas travas
contidas na luxuria; enquanto escreve no meu corpo o teu desejo; as lezírias
perfumadas de fumaças; entra com teus beijos fermentados de tremores; sabores
ociosos; segura o meu corpo e vem; senta-se a sombra do Jequitibá; vem
pega a minha mão olha as estrelas elas acenderam; enquanto explode em mim a
vida vinda de ti; cegaste minha alma; provocando-me uma cegueira astuta vindas dos
pirilampos adormecidos; vem dá-me a tua mão e deixa-me desaguar-me no seu
interior; vem vamos despertar na lua; desvendar os seus mistérios; reverencia
São Jorge meu anjo guerreiro; e deixa-me roçar nas suas plumas e descansar o
meu cansaço no teu corpo úmido de desejos; e quando acordar sentirá uma fisgada
aguda e forte; como uma mordida de cobra; agulha rota; é o meu pulso que
rasguei depois que olhei o sol; a lua não desceu a terra e São Jorge nunca
apareceu; continuamos divididos como o dia e a noite; a minha tristeza vem
nas asas de uma águia a planar no meu infinito; o que é poesia sã essa lucidez
da loucura os sentimentos em coma; com trauma; anestesiados; que vem do âmago
abissal da alma e trás de enxurrada todas as vísceras corrompidas; irrompem as
veias que irrigam o coração; e corre entre veias; artérias dando vida e luz na
imensa escuridão que trava a boca; cega os olhos; provoca a surdez de todos os
mortais; pobres e arrogantes sonhando com a imortalidade; somos o pó que as
estrelas deixaram escapa é pra lá que voltaremos um dia...
... a alma plena; revestida do doces favos do mel
perfumada; como a vida; ou deveria ser pra ter razão não só de estar aqui, mas
pra o existir; o estar; qual a minha cara; hoje nem sei; virei às costas pros
espelhos; tranquei as portas; e deixei pra trás casa; o pátio; e abri o portão;
a parti de hoje entra quem quer e sai que desejar... “Vou-me embora pra Passarada;
pois lá sou Filha do Rei”.
Nina Pilar
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
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